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sexta-feira, 12 de junho de 2015

EROS

“... Mas, nem o espírito ama sozinho, nem o corpo: é o homem, a pessoa, que ama como criatura unitária, de que fazem parte o corpo e a alma. Somente quando ambos se fundem verdadeiramente numa unidade, é que o homem se torna plenamente ele próprio. Só deste modo é que o amor, o Eros, pode amadurecer até à sua verdadeira grandeza”. Assim se exprime o Papa Bento XVI, na sua primeira Carta Encíclica, sobre o amor cristão[1].
            Houve um tempo em que tentativas surgiram com o fim de renegar totalmente a maravilhosa dimensão do amor como Eros. Eros, na mitologia grega, o deus do amor e representado na lenda romana por Cupido ou Amor e cujo significado pode ser como aquele amor instintivo, amor carnal.
            Muitos casamentos tiveram ou têm como fundamento unicamente o amor carnal, Eros. Por isso, fracassaram ou fracassam. Aliás, toda inter-relação que se fundamenta tão somente no Eros, no amor carnal, no amor instinto, está mesmo fadado a curta duração.
            Como muito bem argumenta o Sumo Pontífice Bento XVI quando na sua primeira Encíclica faz rápida, mas rica e autêntica interpretação do Cântico dos Cânticos, pergunta como deve ser vivido o amor para que se realize plenamente a sua promessa humana e divina. E diz ele: “... O amor compreende a totalidade da existência em toda a sua dimensão, inclusive a temporal. Nem poderia ser de outro modo, porque a sua promessa visa o definitivo: o amor visa a eternidade...”. Então, vê-se que o amor Eros, amor carnal, também está incluído na totalidade do amor que leva consigo a finalidade do bem do amado. Mas não somente o amor carnal, também o amor de amizade, que os gregos chamavam de filia; e mais ainda, o amor ágape, que tem o significado de mútua afeição e que visa o bem do amado, numa preocupação ativa pela sua vida e o crescimento.
            Em se falando de matrimônio, casamento, deduz-se que o amor Eros, amor carnal, deve passar por uma purificação, com renúncias e sacrifícios para não suplantar as outras duas dimensões do amor, o amor amizade e o amor afeição, mesmo que uma delas sobressaia em relação às outras. Também aqui, há sempre o perigo e o risco da criação de feudo em cima das dimensões do amor ou de uma delas. O que fatalmente levará o casamento a um fim o qual não se pode prever qual será. Acentuar o casamento sobre uma só das dimensões do amor e fixar-se somente nela poderá, como acontece sempre, levar o casamento ao total fracasso, pois de repente passar-se-á viver uma vida a dois desprovida de qualquer sentido, quando, então, a separação torna-se o único remédio, incapaz de curar a ferida e apagar as marcas deixadas por uma inter-relação que jamais poderia ter acontecido.
            O amor Eros ou carnal, o amor filia ou de amizade e o amor ágape ou de afeição, que visa o bem do amado, que espera algo de retorno e sem exigência, um tripé perfeito; dos três, o ágape sobressai como aquele capaz de sustentar o matrimônio e, sem ele, os outros dois estariam na iminência de se sucumbirem, não sendo capazes da manutenção do casamento, como tem acontecido na prática com inúmeros fracassos matrimoniais. E fracassam porque, tanto o Eros, como o amor de amizade, tem seus limites bastante aquém do que é capaz o amor ágape, doação e entrega total ao outro e para o bem dele. Isto explica muito bem o motivo ou motivos de muitíssimos casamentos destruídos, quando falta o amor ágape, caminho seguro de manutenção do matrimônio. Eis, pois!

(1)  Papa Bento XVI (latim: Benedictus PP. XVI, em italiano Benedetto XVI), nascido Joseph Alois Ratzinger, (Marktl am Inn, Baviera, 16 de abril de 1927) é Papa desde o dia 19 de Abril de 2005. Foi eleito como o 265º Papa com a idade de 78 anos e três dias, sendo o actual Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana. Foi eleito para suceder ao Papa João Paulo II no conclave de 2005 que terminou no dia 19 de Abril. É pianista e tem preferências por Mozart e Bach.  Grande teólogo e profundo conhecedor da filosofia. É o sexto e talvez o sétimo (segundo a procedência de Estêvão VIII, de quem não se sabe se nasceu em Roma ou na Alemanha) papa alemão desde Vítor II e, nos seus 80 anos, tem a idade máxima para ser cardeal eleitor. Em abril de 2005 foi incluído pela revista Time como sendo uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. O último Papa com este nome foi Bento XV, que esteve no cargo de 1914 a 1922, foi o Papa durante a Primeira Guerra Mundial. Ratzinger é o primeiro Decano do Colégio Cardinalício eleito Papa desde Paulo IV em 1555 e o primeiro Cardeal-bispo eleito Papa desde Pio VIII em 1829.




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