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sexta-feira, 18 de março de 2016

O PRIMEIRO PASSO

                             Resolver viver com alguém é um sinal muito forte de desejo e compromisso. A infidelidade ao compromisso constitui-se em uma grande desconsideração em relação aos termos do contrato do casamento. Por isso, a promessa de fidelidade precisa ser controlada. Significa que os namorados ou noivos, desejosos mesmo de selar o compromisso do casamento, avaliem criticamente o compromisso que vão assumir e levem em consideração que precisarão abrir mão de alguma liberdade, em troca de um bom relacionamento, baseado na confiança.
                O amor muda sua coloração, troca de facetas ao longo do tempo. O ser humano amadurece, descobre novos horizontes de uma infinidade de valores e amplia e aprofunda os princípios que assimilou ao longo dos anos vividos. E decidido a viver intimamente e construir comunhão de amor com alguém, deve estar consciente de que o casamento é um acordo de vontades. Assim, Deus o instituiu no início da criação.
                Por certo que os cônjuges, isto é, aqueles que se decidem pelo casamento e, de fato, o celebram, realizam o matrimônio como um acordo satisfatório para ambos. Neste sentido, o matrimônio constitui um estado de vida completamente diverso da vida na individualidade. Sem deixar de ser indivíduo, cada um dos cônjuges irá buscar construir uma íntima comunhão de amor, essencial ao casamento, sem o que será absolutamente desfigurado. Será comunhão de vontades, de perspectivas, sonhos, desejos e realizações. Não há perda e nem supressão do próprio eu. Sua individualidade conserva-se, porém, mais aberta à renúncia e aos sacrifícios quando o bem do outro cônjuge está em jogo ou o exige que assim seja. Também quando surgem as dificuldades individuais e a dois, cada um deverá estar aberto a cooperar com o outro no processo de superação.
                O primeiro passo para um acordo satisfatório será fazer o que prometeu, para que seja coerente com o compromisso assumido e o forte desejo seja justificado por atitude e postura condizente com a felicidade do outro. Fazer significa passar das palavras à ação. Impensável que todo comportamento extravasado ao longo do namoro e depois, quando chegam à conclusão pelo noivado de que o romance vivido deve se tornar realidade, selando o compromisso, casados, uma vez celebrado o matrimônio, deixam que os relacionamentos percam o romantismo. Não. Para que isto não ocorra, o primeiro passo deve ser fazer o que prometeu para que o acordo continue satisfatório para ambos. Deus, mesmo na sagrada Escritura, mostra-se como o grande exemplo de fidelidade, fazendo o que prometeu, mesmo diante da infidelidade dos humanos. O que se constitui em elaboração dos termos de um acordo satisfatório, não pode e nem deve se tornar inexistente ou vazio, mas realidade, mesmo que o romance permaneça. Eis, pois!

EDIFICAR UMA TORRE.



        “Quem de vós, querendo edificar uma torre, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários a fim de ver se tem com que acabá-la? ” (Lc 14,28)
                O casamento instituído por Deus no início da criação o foi por um projeto imaginado por ele para dar o melhor ao ser humano. Obviamente, Deus o instituiu com fins bem determinados, mas, sobretudo, o fez para que o ser humano atingisse a felicidade e fosse essa um modo de viver. E o casamento pode ser comparado a uma torre a ser edificada, mas que tem custos que só trarão vantagens se os cálculos forem reais e não sonhos e fantasias.
                O casamento tem suas bases e fundamentos no que se convencionou chamar de namoro e, posteriormente, de noivado.
                É verdade que o namoro acontece repleto de romance, sonhos e muitas emoções fortes levados pelo que o ser humano tem como de mais nobre valor: o amor. E não poderia ser diferente. Trata-se de um tempo propício para começar a calcular se pode, se será possível construir esta torre, cujo fundamento maior seja o amor de desejos, mas também não menos de um elemento sem o qual a construção estará fadada ao total fracasso, ou seja, o compromisso. Por isso, os cálculos não podem ser superfiais e nem equivocados. Mas cálculos com base na realidade de duas vidas e existências desejosas de atingirem a felicidade e fazerem dela um modo de viver. No namoro, destaca-se como argumento importante o conhecimento mútuo, isto é, homem e mulher procuram penetrar no íntimo um do outro e certificar-se daquilo que seja o outro com quem pretende constituir um consórcio de toda a vida, para o bem mútuo, numa aliança em que colocam para sempre as suas vidas em comum de forma íntima, com a mútua ajuda, a ponto de formarem uma autêntica comunhão de vidas.
                Como se pode ver, o tempo de namoro é fundamental para a existência de duas vidas que se tornarão, no casamento, uma só carne, um só ser, como planejado e querido por Deus. Por certo que o cálculo para a construção desta torre requer de cada um aquele conhecimento mútuo, de tal forma que possam avaliar e sopesar se, de fato, poderão coexistir qualidades e defeitos que perturbem o consórcio de toda a vida e da vida toda. Em outras palavras, se foram chamados por Deus para constituir uma só carne, ou uma vocação à vida matrimonial, que perdure até o fim da existência.
                O amor que fará com que se unam em matrimônio tem como condição para ser verdadeiro, se ambos se conhecerem, inclusive avaliar se será possível conviver suportando os defeitos e equívocos um do outro. Sem um conhecimento necessário e claro não será possível coexistir uma torre sem o seu fundamento maior: o amor.
                Os ciúmes doentios, as infindáveis cobranças, muitas vezes injustificadas, a exigência de isolamento a que um possa impor ao outro no tempo de namoro, a desconfiança, os desaforos e a mentira são desvalores que não poucas vezes causam desgosto, dissabor e decepção. Estes levam ou conduzem à celebração de um matrimônio que tem tudo para ser um fracasso cujo casamento, se celebrado, marcará a ambos para o resto de suas existências.
                É verdade que o ser humano tem seus mistérios, muitas vezes insondáveis, mas é possível um mínimo de conhecimento do outro, para assim possibilitar a constituição de uma comunidade de vidas, a construção de uma torre sólida que as tempestades da vida ameaçam, e nenhuma se fazer ruir. Eis, pois!