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terça-feira, 23 de junho de 2015

AMOR OU FANTASMAS?


            O célebre pensador e escritor Jankélévitch[i], em suas meditações sobre o amor, certa feita assim exprimiu: “Para amar é preciso ser, mas para ser é preciso, antes de tudo, amar: pois quem não ama é um simples fantasma”.
            Diria que as ligações entre as pessoas se tornam pobres e empobrecidas quando as convenções e a superficialidade dos contatos estabelecem relações impessoais e impedem o autêntico encontro amoroso.
            Até parece ideia fixa falar amiúde de amor. Mas, como dele não falar, do fio condutor de toda a relação do casamento? Neste sentido, amor, obviamente, será fonte e matéria de constante debate, reflexão e escrita. Haverá sempre um discurso sobre o amor. Encontro que faz na intersubjetividade, na relação com o ser amado.
            O amor é um convite para sair de si mesmo. Concentrado em si mesmo, o ser humano se obstaculiza e se torna incapaz de ouvir o apelo do ser amado, ou de quem pensa amar. E a busca do outro somente para satisfação própria, torna-se impedimento para o encontro verdadeiro. Este pensamento faz lembrar a lenda de Narciso que, ao apaixonar-se por si próprio, esquecendo-se de se alimentar, tão envolvido que esteve com a própria imagem inatingível, morre, porque torna impossível a intersubjetividade, a relação e vínculo fecundo com o ser amado.
            Na intersubjetividade impossível, relação fecunda de encontro, o ser humano, centrado em si mesmo, jamais realizará um encontro de amor, porque amar é desejar o anseio do outro.
            A vida requer riscos, mas calculados e garantidos. Fechado em si, o ser humano, na misteriosa arte de amar, sem desejar o anseio do outro, só encontrará fantasmas. Estes são próprios do mundo ideal, inexistente, presente somente na cabeça de quem sofre incapacidade de ver e ler a realidade com objetividade. O mundo dos fantasmas, ilusório e misterioso, faz o ser humano recair no vazio do amor. Amor estéril, que impede verdadeiro encontro. Fantasmas só prestam para raiar e arranhar a existência, como é próprio das vicissitudes negativas da vida.        
Com o ideal de uma intersubjetividade, ou seja, elação que possibilite sempre verdadeiro encontro, no casamento deve persistir a fé que faz remover montanhas. Acrescente-se, também, a necessidade de um clamor como de Sara, depois de ser tomada como esposa por Tobias: “Tende piedade de nós, Senhor, e fazei que cheguemos a uma ditosa velhice” (Tobias 8,10). Sem fantasmas. Eis, pois!
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Vladimir Jankélévitch (31 de agosto 1903 em Bourges - 6 junho 1985, em Paris). Jankélévitch era filho de pais russos, que haviam emigrado para França. In 1922, he started studying philosophy at the École normale supérieure in Paris, under Professor Bergson. Em 1922 ele começou a estudar filosofia na École normale supérieure em Paris, sob Professor Bergson. From 1927 to 1932, he taught at the Institut Français in Prague, where he wrote his doctorate on Schelling. De 1927 a 1932 ele ensinou no Institut Français de Praga, onde escreveu seu doutoramento sobre Schelling. He returned to France in 1933, where he taught at the Lycée du Parc in Lyon and at many universities, including Toulouse und Lille. Ele retornou à França em 1933, onde ele ensinou no Lycée du Parc, em Lyon e em muitas universidades, incluindo Toulouse und Lille. In 1939 he joined the French Resistance. Em 1939, começou a trabalhar na Resistência Francesa. After the war, in 1951, he was appointed to the chair of Moral Philosophy at the Sorbonne, where he taught until 1978. Depois da guerra, em 1951, ele foi nomeado para a cadeira de Moral Filosofia na Sorbonne, onde ele ensinou até 1978. A citação é extraída da obra do autor: Traité des vertus, do ano de 1936.




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