Disse diversas vezes que, escrevendo sobre uma
realidade tão palpável, o casamento, às vezes, tenho a impressão de falar o
óbvio, mas também algo que parece desconhecido e sem muita, ou quase nenhuma,
importância diante dos valores que o mundo prega.
Nasci de um casamento. Se ele não fosse real, nem
sombra eu seria. Como existo, penso que sou importante, ao menos para mim
mesmo, se não sou importante para ninguém. Sou uma vida, vida sem preço. E se
sou uma vida, a realidade casamento, de onde vim, deve ser ainda mais
importante.
Acredito no casamento.
Acredito porque foi um amor que o fez. E falar de amor, sentimento que me
inspira a ideia de Deus, certamente, o casamento levado a efeito pelo amor,
permanecerá, porque vivido no amor e pelo amor, deve também levar ao amor. E o
mundo pensa um amor que não permanece, pensa um amor provisório. Penso que amor
não termina por nada. Se verdadeiro, deve permanecer eternamente, como o amor
de Deus, eternamente permanente.
Vivi, dias atrás, uma
experiência curiosa e, ao mesmo tempo, inusitada (= desusada, esquisita,
estranha). Sem ser procurado e conhecido, e penso que também ignorado, assisti
a um casal, ainda jovem, a mulher com seu bebê ao colo, discutiam; e o marido,
talvez, ex-marido, perguntava a ela: Por que você fez isso comigo? Por que não quis
ficar comigo? Eu, como desconhecido, já dito, procurei entender. Interessante
que o bebê, ora no colo de um, ora no colo de outro, dormia feliz. E a
discussão foi se esquentando. Com o tempo, mais quente ficou. Inspirado, pus-me
a olhar nos olhos de ambos, sem que percebessem, e via eu, ao mesmo tempo,
sentimento de amor e de ódio. Ódio (= rancor profundo e, às vezes, duradouro;
aversão inveterada, malquerença).
Prefiro falar aqui de
amor e não de ódio. Este sentimento terrivelmente negativo, porque destrutivo,
assustador.
Amor, sim. Amor: afeição profunda de uma pessoa a outra
de sexos diferentes: conjunto de fenômenos cerebrais e afetivos que constituem
os relacionamentos da benquerença e que levam à alegria e à felicidade, a si e
ao outro. Estou convicto de que foi este, talvez, algo mais, que o Senhor Deus
inscreveu no ser dos humanos. E foi este amor que Jesus Cristo elevou à
dignidade de Sacramento, sinal de Graça, santidade e salvação.
Até o presente, não
encontrei explicação plausível, digna de aplauso, no comportamento daquele
casal. Minha convicção é de que lutas e brigas nunca vão resolver problemas.
Melhor tentar compreensão, carinho e flexibilidade. O outro é dádiva oferecida
para ajudar a enriquecer a vida, uma asa para compor com o outro a capacidade e
possibilidade de alçar voo e atingir a divindade, já que Deus é amor. Eis,
pois!
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